A região Marche fica na Itália central e possui clima e geografia semelhantes as regiões Umbria e Toscana. Por ser uma região com 68% do território de colinas, se beneficia dessa geografia na produção de vinho. Nos últimos anos obteve um discreto sucesso e recebeu vários prêmios. A produção de vinhos da região Marche se divide em 45% de vinho branco e o restante dividido em tinto e rosé. E possui patrimonio de 205 videiras autóctones, um número superior a França.
Um pouco de história
A história da vinicultura em Marche é bem antiga, vem da época da colonização greca, os gregos estiveram na região e inclusive fundaram a cidade de Ancona. No sul da região em uma zona conhecida como Piceno foram trazidas as primeiras videiras. Os romanos chegaram na região por volta de 295 a.C. e Plinio O Velho (um escritor romano), fez referências as variedades de videiras plantadas nessa área.
Entre os séculos VI e XIII d.C. a presença de monges era bem difusa pelo território, e era comum nos monastérios e abadias terem uma videira. Os monges também eram responsáveis pelos estudos das técnicas vitivinícolas e tentativas de melhorar a qualidade do vinho.
Com o tempo cada vez mais o consumo foi se popularizando. No período que a região fez parte do Estado Pontifício as videiras foram atacadas pelas pragas como Oidio, Peronospora e Filossera e demorou bastante tempo para encontrar uma solução para esse problema. Com a primeira guerra mundial foram introduzidas novas tecnologias e aumentaram os lucros e as áreas de cultivo. Foi em 1953 que a vinícola Farzi Battaglia criou a garrafa em forma de ânfora, que tornou o vinho Verdicchio famoso no mundo. Com uma garrafa desenhada pelo arquiteto Antonio Maiocchi
Depois dos anos 90 as vinícolas passaram por grandes reestruturações, começou a se utilizar mecanização e foram introduzidos as videiras antigas regionais e algumas internacionais. A partir desse período se teve uma maior preocupação com a qualidade dos vinhos da região Marche.
A paisagem do vinho
A região Marche possui videiras cultivadas entre 30 e 650 metros de altitude. O solo é de sedimentos calcários argilosos, de areia e pequenas pedras. Geologicamente prevalece as rochas calcárias, marga e marga calcárea (um subsolo semelhante a zona de Champagne na França).
O clima é mediterrâneo no litoral e na faixa colinar, ficando submediterraoneo na parte mais interna. Na parte montuosa é definido como oceânico.
Videiras autóctones de Marche
A região possui um grande número de videiras, muitas autóctones e algumas videiras internacionais como o Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Pinot Nero. Durante o século XVIII sofreu por uma grande experimentação na produção com introdução de variedades internacionais.
Montepulciano
O Montepulciano chamado de Montepulciano dell’Abruzzo é a uva mais usada nos vinhos tintos. Um vinho originário do Vale Peligna no Abruzzo. Muitas vezes é utilizado em assemblage con o Sangiovese. Principais vinhos são: Rosso Conero DOCG, Rosso Conero DOC e Rosso Piceno DOC.
Sangiovese
É uma uva propagada em toda a região, sendo utilizada em vários blends das denominações de vinhos da região. A uva Sangiovese também pode ser encontrado em pureza (ou seja, um vinho produzido 100% de uma uva) como o vinho Colli Maceratesi e Colli Pesaresi Sangiovesi DOC.
Verdicchio
Uma videira de uva branca, com a maior zona de cultivo é na área de Castelli di Jesi, na província de Ancona e zona de Matelica na provincia de Macerata. É a uva símbolo da região, de origem lombarda-veneta, comprovada por exame de DNA como Trebbiano di Soave. O Verdicchio dei Castelli di Jesi produz um vinho com maior corpo, já o de Matelica costuma ser mais perfumado.
Biancame
Biancame é uma videira de uvas brancas bem característica da região Marche, que também recebe o nome de Bianchello. Uva utilizada no vinho Bianchello del Metauro DOC com um percentual de 95% de uvas dessa casta. Um vinho branco, delicado e floral.
Malvasia Bianca
Outra videira de uvas brancas que sempre esteve presente na região, a Malvasia Bianca é utilizada na produção dos vinhos: Bianchello del Metauro DOC, Colli Maceratesi DOC e Marche IGT. Uma uva aromática com sensores de frutas tropicais.
Passerina
Uma videira de uvas brancas presente na região Marche e na região vizinha, o Abruzzo. A uva Passerina junto com a uva Pecorino é utilizada em vários blends. Ultimamente muito utilizada na produção de vinhos espumantes.
Lacrima
Uma videira de uva tinta autoctone da região Marche, limitada a cidade de Morro d’Alba. Foi quase extinto até que foi tutelada e criada a denominação de origem Lacrima di Morro d’Alba DOC. Recebeu esse nome porque a uva quando está madura, rompe a casca e a polpa produz uma lagrima. Produz um vinho de cor quase roxa, que é uma das suas características, utilizado em versão passita.
Pecorino
Mais uma videira de uva branca autoctona da região, sempre foi cultivada nas proximidades dos Montes Sibillini. A uva Pecorino foi redescoberta recentemente, sendo esquecido por um período devido sua baixa produtividade. Vinificado sozinho ou em blend com a uva Passerina.
Trebbiano Toscano
Uma das videiras de uvas brancas mais cultivados na zona central da Italia, em Marche é utilizado nos vinhos Colli Maceratesi DOC, Colli Pesaresi DOC, Falerio DOC e Marche IGT.
Maceratino
Uma uva de antigas origens gregas, também conhecido como Ribona. Cultivado a muitos anos na provincia de Macerata, por isso recebeu esse nome. Encontrado nos vinhos Bianco Piceno e Bianco dei Colli Maceratesi DOC.
Os grandes vinhos da região
Verdicchio
Um vinho caracterizado pela sua grande acidez e concentração de açúcar, uma das variedades mais maleáveis da Italia, fornecendo uma gama de vinhos que vão dos brancos, espumantes e passitos, passando por vinhos secos. Com uma grande longevidade, comparado ao vinho francês Chablis. Chamado de Verdicchio di Matelica quando produzido na província de Macerata se apresenta mais estruturado. Quando produzido na província de Ancona é chamado Verdicchio Castelli di Jesi. Recebeu o prémio de melhor vinho italiano na classificação “100 most exciting mines 2021” pela associação Wine Enthusiast, o vinho da vinicola Bucci.
Rosso Conero
É um vinho feito a partir de um blend de uvas Montepulciano e Sangiovese com um percentual de 15%. Produzido na área do Monte Conero, na proximidade do litoral, uma das área mais importantes para produção de vinhos tintos na região. Possui uma grande persistência aromática e notas frutadas. Um vinho seco, de cor rubi, com aroma de cereja, mirtilos, rosa e violeta.
O vinho Rosso Conero era já citado por Plinio “o Velho” no livro Naturalis Historia registrando sua origem em época romana. Um vinho conhecido pelos monges beneditinos que o usavam para cura chamado: ” néctar retirado de um sistema particular em que vinham utilizadas as uvas cultivadas no Monte Conero.”
Bianchello del Metauro
Um vinho produzido a partir das uvas Biancame com minimo de 95% e Malvasia Bianca, a zona vinícola se concentra no norte da região, nas proximidades do rio Metauro, que nomeia o vinho. Um vinho de baixa gradação alcoólica e fresco. Possui versões espumante e passito. Possui cor limão, com reflexos esverdeados, aromas de flor do campo e Tília. Proxima a costa produz mais frescos e iodados, na parte interna produzindo vinhos tende a ser mais complexo. Um vinho histórico ja conhecido na epoca dos romanos.
Lacrima di Morro d’Alba
O vinho Lacrima di Morro d’Alba é um vinho tinto produzido com a uva de mesmo nome. É uma uva aromática, muita intensa de cor e sabor. Possui coloração rubi intenso com nuances arroxeadas.
Nos anos 80 quase foi extinta, e nesse momento para tutelar a produção foi criado o DOC em 1985. O vinho é conhecido há bastante tempo, e uma citação histórica descreve que em 1167 durante o Assédio de Ancona Federico Barbarossa levou um carregamento de suco dessa uva.
A versão Lacrima Superiore é a versão mais procurada, possui uma gradação mínima de 12 graus, com um processo de apassimento de 3-5 dias, antes de ser vinificado e o afinamento em garrafa é de pelo menos 12 meses. Esse vinho tem sido comparado com o Amarone!
Vernaccia di Serrapetrona
A denominação de Vernaccia de Serrapetrona DOCG é reservada ao vinho espumante feito com uvas da videira Vernaccia Nera com pelo menos 85% e o restante do vinho com uvas vermelhas, cultivadas em Marche.
A zona de produção deste vinho compreende os territórios da cidade de Serrapetrona, parte da cidade Belforte del Chienti e de San Severino Marche, todas na província de Macerata, região Marche.
É um vinho único, pois passa por 3 etapas de fermentação: se obtém o vinho base, depois se adiciona vinho passito e passa por outra fermentação e por último passa pelo processo de spumantização. Justamente por sua característica única, os produtores locais estão buscando o reconhecimento do vinho como Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO!
É um vinho de cor rubi não muito intenso, com uma espuma vermelha, com perlage delicada. Possui um aroma vinoso e lembra frutas vermelhas maduras, geléia e flores secas.
Denominações de Origem
Denominação de origem é uma indicação geográfica que identifica um produto alimentar, ligando-o ao território de origem. Um sistema criado para proteger os produtos locais e tutelar o consumidor. Para possuir este selo de qualidade o produto deve passar por um processo de reconhecimentos e seguir um Procedimento de Fabricação.
DOCG
- Castelli di Jesi Verdicchio Riserva DOCG;
- Conero DOCG;
- Offida DOCG;
- Verdicchio di Materica Riserva DOCG;
- Vernaccia di Serrapetrona DOCG
DOC
- Bianchello del Metauro DOC;
- Colli Maceratesi DOC;
- Colli Pesaresi DOC;
- Esino DOC;
- Falerio DOC;
- I Terreni di San Severino;
- Lacrima di Morro d’Alba DOC;
- Pergola DOC;
- Rosso Conero DOC;
- Rosso Piceno DOC;
- San Ginesio DOC;
- Serrapetrona DOC;
- Terre di Offida DOC;
- Verdicchio dei Castelli di Jesi DOC;
- Verdicchio di Materica DOC.
IGT
- Marche IGT
Curiosidades
Durante a presença de Napoleão Bonaparte na região, no periodo de 1805 e 1814, técnicas enológicas de vanguarda e variedade de videiras francesas foram introduzidas. Um dos exemplos é a uva Pinot Nero que foi introduzida na área de Fiorenzuola di Focara, no norte da região, onde até hoje são produzidos vinhos elegantes. Frequentemente essa uva é vinificada em branco, para produção de espumantes.
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